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Me conheça

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Origens:
O Barro:
Raízes e Aprendizado

Desde pequena, minhas mãos se moldaram às práticas culturais do meu povo Xakriabá, encontrando identidade no barro, no genipapo, e, posteriormente, no giz. Meu contato inicial com a terra, aprendendo a plantar, coletar e criar artesanato, especialmente com o barro, não apenas me introduziu às responsabilidades de uma criança indígena, mas também me ensinou a importância da transmissão de saberes entre gerações. Essa fase, que chamo de "barro", representou um período de iniciação, guiada por meu pai e meus avós, onde as artes e as práticas culturais se tornaram fundamentais para o desenvolvimento das habilidades essenciais à preservação de nossa identidade. A sabedoria dos mais velhos, comparada a cacimbas que armazenam água para tempos de necessidade, me inspirou profundamente e moldou minha abordagem educativa como professora Xakriabá, buscando sempre indigenizar as práticas escolares.

 

O Genipapo:
Juventude e Identidade

Na minha juventude, mergulhei na arte das pinturas corporais com o genipapo, aprendendo com os mais velhos o significado profundo desse ritual. Para nós, pintar o corpo vai além da estética; é uma prática espiritual que marca nossa identidade e fortalece nossa conexão com o espírito. Foi um período de resistência e reafirmação cultural, enfrentando tentativas externas de suprimir essa expressão. As palavras do Pajé Vicente Xakriabá ressoam comigo: ao nos pintarmos, é o espírito que está sendo adornado, numa celebração da nossa essência. (foto deputada no território)

O Giz: Educação e ResistênciaA educação formal entrou em minha vida através do giz, quando participei da primeira turma de professores Xakriabá formados no Magistério Indígena. Essa experiência, oferecida pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, foi uma porta de entrada para um ensino médio e superior sob a ótica indígena, permitindo-me participar ativamente na construção de um currículo escolar que respeitasse nossas singularidades. Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), cursei a Formação Intercultural para Educadores Indígenas, onde a convivência intercultural reforçou minha identidade e desejo de aprofundar o conhecimento sobre meu povo. Como professora, utilizei o giz não apenas como ferramenta de ensino, mas como um símbolo de nossa luta por uma educação que reflete nossa visão de mundo. 

Movimento Indígena e Protagonismo

Desde cedo, envolvi-me no Movimento Indígena, primeiramente acompanhando as lideranças de meu povo e, mais tarde, representando-os. Esse engajamento fortaleceu minha percepção sobre o papel crucial das mulheres indígenas na política e na cultura, subvertendo as narrativas tradicionais e reafirmando nossa importância no tecido social e cultural Xakriabá. Além disso, a minha atuação em defesa dos direitos territoriais e ambientais ampliou meu entendimento sobre a sustentabilidade e a importância da educação diferenciada, culminando na coordenação do Programa de Educação Escolar Indígena de Minas Gerais.

O ingresso no Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a Povos e Terras Tradicionais da Universidade de Brasília (UnB) marcou uma nova fase de minha jornada, permitindo-me dialogar entre saberes e práticas tradicionais e acadêmicas, em busca de contribuições para a descolonização do conhecimento.Minha trajetória reflete uma vida dedicada à valorização e preservação da cultura Xakriabá, à educação indígena diferenciada e à luta constante pelos direitos de nosso povo. Assim, transito entre mundos, fortalecendo minha identidade e cultura, enquanto enfrento os desafios impostos pela sociedade contemporânea. 

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Contra o Marco Temporal e pela Demarcação Já

Desde que assumi o meu primeiro ano de mandato à frente da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais, na Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas, tenho navegado pelas águas turbulentas e desafiadoras da política com a força e a sabedoria de meus ancestrais. Meu caminho até aqui foi pavimentado pela luta e pela resistência, valores que aprendi desde cedo na minha comunidade Xakriabá. O respeito às nossas tradições, a preservação do nosso meio ambiente e a defesa incansável dos direitos dos povos indígenas têm sido o norte de minha atuação.

Neste ano de intensa atividade parlamentar, um dos nossos maiores triunfos foi a aprovação do PL 3148/23. Esta legislação pioneira assegura às comunidades indígenas, quilombolas e do campo o direito de nomear as instituições públicas de ensino localizadas em seus territórios com nomes indígenas. Isso representa um passo significativo para o reconhecimento e a valorização de nossas culturas e línguas, contribuindo para a perpetuação de nossa história e identidade. A educação é um dos pilares para a construção de um futuro mais justo e equitativo, e poder nomear nossas escolas com palavras que ressoam nossa ancestralidade é reafirmar nossa existência e resistência.

Outra frente de batalha que tem exigido nosso foco e determinação é a luta contra a tese do Marco Temporal. Esta ideologia busca limitar o reconhecimento e a demarcação de terras indígenas ao status de ocupação que tínhamos em 1988, ignorando séculos de deslocamentos forçados e violências cometidas contra nossos povos. O Marco Temporal é uma ameaça direta à nossa sobrevivência, pois desconsidera nossa história e nossos direitos garantidos pela Constituição. Temos nos posicionado firmemente contra essa visão, defendendo a demarcação de terras como essencial para a proteção de nossos povos e do meio ambiente.

Durante este ano, estive em diversas assembleias, reuniões e manifestações, levantando a voz em nome de meu povo e de outros povos originários e tradicionais. A presença indígena no Congresso Nacional é histórica e simbólica, representando não apenas um avanço político, mas também um resgate cultural. Cada passo que dou neste solo é carregado de significado, cada palavra que profiro é um eco dos ensinamentos dos meus antepassados.

A jornada tem sido árdua, mas também repleta de aprendizado e conquistas. O trabalho à frente da Comissão e na Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas é um testemunho do poder da união e da persistência. Seguimos na luta pela garantia dos nossos direitos, pela proteção de nossas terras e pela valorização de nossas culturas.

Neste caminho, conto com o apoio de cada um de vocês. A luta pelos direitos indígenas é uma causa coletiva, que requer o engajamento de todos aqueles que sonham com um mundo mais justo e sustentável. Juntos, continuaremos a fazer história, garantindo que as futuras gerações possam viver em um mundo onde a diversidade é celebrada e protegida. 

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